Meus olhos, mais que as unhas,
precisam ser aparados regularmente,
porque o defunto que um dia serei
costuma tomar como suas
paisagens minhas que deixo,
levado pela emoção,
transbordar da vida.
Me faço vermes, então,
e devoro esse corpo inerte
que – junto com o meu próprio –
ladeiam-me a alma como orelhas.
Que ele exista desde já, se lhe apraz,
mas só por breves momentos:
enquanto vida houver,
minha alma será Van Gogh.