Corujas e morcegos

quarta-feira, 30 de março de 2011

Boca a boca


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. . . . . . . . . . . . . . . . . Na carne, no osso
. . . . . . . . . . . . . . . . . A dor vai penetrando
. . . . . . . . . . . . . . . . . Quem sentirá, tanto como eu, minha agonia?
. . . . . . . . . . . . . . . . . Delírio de velha
. . . . . . . . . . . . . . . . . Visão ou lembrança
. . . . . . . . . . . . . . . . . Ah, como fui jovem
. . . . . . . . . . . . . . . . . E amei demais a vida.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Estou sozinha na cama fria
. . . . . . . . . . . . . . . . . Meu corpo arde na lenta espera
. . . . . . . . . . . . . . . . . Estou sozinha na cama, na vida
. . . . . . . . . . . . . . . . . Estou sozinha diante da morte.
. . . . . . . . . . . . . . . . . É o medo, é o frio
. . . . . . . . . . . . . . . . . Nas juntas, nos nervos
. . . . . . . . . . . . . . . . . Quem me dará forças
. . . . . . . . . . . . . . . . . Para ver o fim de tudo?

. . . . . . . . . . . . . . . . . Eu tenho fé no mundo e nos homens
. . . . . . . . . . . . . . . . . Eu tenho fé nesta louca aventura
. . . . . . . . . . . . . . . . . Eu quero sim este ar que me falta
. . . . . . . . . . . . . . . . . Eu quero sim respirar boca a boca, amar.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Nas juntas, nos nervos
. . . . . . . . . . . . . . . . . Quem te dará forças
. . . . . . . . . . . . . . . . . Para ver o fim de tudo?
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Esta canção, umas das mais belas e certamente a mais sombria da dupla Milton Nascimento/ Fernando Brant, não ‘tocou no rádio’. Milton a incluiu no disco Maria Maria/ Último trem (1975), mas não a ‘trabalhou’ nem em shows. No ano seguinte, Nana Caymmi registrou sua versão – imbatível, antológica!  - no LP Renascer.

A música é tão boa, tão sofisticada (com Brant em estado de graça demoníaca!) que, claro, não se encontra no Youtube. Achei a letra em diversos sites, mas não a gravação. Em alguns, acompanha a letra um vídeo em que Nana canta 'Cala a boca menino'. Então... cala a boca, menino(a), e tenta ouvir por aí, de preferência na voz de Nana, a velha ainda a gemer de tesão pela vida na hora da morte!

 (A foto – em cores invertidas – é da escultura ‘O Beijo da Morte’, instalada em 1930 numa sepultura do Cemitério de Barcelona.)